terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Senhoras do Ó


Catedral de Évora 
(imagem da net)


Senhoras do Ó


O Sol da tarde enche todo o céu
mas dentro é outra a Luz.
Lou Reed deixa vazio na cidade.
O órgão enche todo o silêncio.
A Senhora tem o ventre cheio
e a mão do coração toda aberta sobre ele,
maiores parecendo os seus finos dedos.

Quase a seus pés, 
na nave central, um pouco a oriente,
a senhora, sentada, põe a mesma mão
sobre o seu ventre já em ó grande
e o olha
como a um início de sorriso
e o acaricia
ora em movimentos lentos
com a mão como a da Senhora toda aberta
ora, parando por vezes,
apenas com a ponta dos seus dedos
ligeiramente encurvados, docemente,
como se acariciasse dentro um cabelo
ainda pequenino e frágil…

O órgão enche o grandioso templo
e aquela mão do coração todo o tempo
cobre de pura ternura o pequeno templo
gerado em forma de um ovo e de um ó,
poema sagrado aquele momento
de enternecimento,
profana é qualquer palavra…


José Rodrigues Dias, 2013-10-27

domingo, 21 de outubro de 2018

Temporais


(Primeiro poema)


Temporais

Fui à cidade,
olhei os homens:

Àquela hora da manhã,
e já não era cedo,
pareceu-me pouca a gente
e com olhares de medo…

Pareceu-me alguma doente,
outra muito sombria
como a chuva que já caía,
temporais
de um novo dia
de um novo ano
amedrontando o corpo
e a mente…

2012-01-02

* * * 

José Rodrigues Dias, 2012-10-21

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Sonho


Do segundo livro de Poesia publicado (2011), 
hoje que dizem ser o Dia Mundial do Sonho...

Com uma gravação (fraca) que fiz, no Youtube...
Se ouvir,  talvez possa acompanhar seguindo o poema transcrito abaixo...





Sonho


Amanhã talvez mudes, Amiga!
Mas hoje não deixes que te mudem,
Que te mudem o sonho em Abril florido…
O sonho que agora sonhas inebriada
Como em sono de menina quase acordada…
Não, não deixes!
Sonha, sonha, sonha… Sempre!

Enquanto o mundo te deixar,
Fica assim o tempo que puderes a sonhar
E alimenta assim a alavanca de sonho meu
Mesmo sendo de tons diferentes do teu…
Quando para outro lado do sonho passares,
Se passares, ou se te passarem,
Se por outros caminhos então andares,
Imagino que sentirás pena deste teu sonho ter acabado,
Se em ti o belo e o puro tiverem tristemente em deserto secado…

Sim, Amiga, é provável que também em ti
Este sonho acabe, que se esfume em nada,
Ou em quase nada…
Só tu, então, o saberás!

Precavida, guarda sempre uma réstia do teu sonho,
Da tua aurora que dela te irás recordar
Em madrugada de frio acordada…
Guarda bem uma réstia dessa luz,
Em teu secreto tesouro, só teu,
Um raio só que dessa luz seja,
Desta tua aurora em tons de sol a chegar…
Ficará como um teu porto ainda de partidas
Mesmo que só já de sombrios sonhos em estreitas
Caminhadas em águas já poluídas e agitadas…

Sabes, Amiga, não haverá tempo belo como o do
Sonho jovem e puro acordado a pensar tudo mudar,
Mesmo nada mudando,
Mudando o mundo…

Olha, Amiga, é ainda hoje
A luz dos meus sonhos que me vai encaminhando…

Sonha, Amiga…

(2010-09-06)


José Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, Chiado Editora, 2011 

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Digital, máquina apenas



 
Digital, máquina apenas


Digital,

feita de zeros e uns,
do que é e não é,
luz e trevas…
 

Apenas isso,
máquina apenas,
luz e trevas
plenas…

Como poderia entender
um talvez,
uma sombra,
uma lágrima nascida
retida?

Ou umas gotículas de água
num botão de rosa
pela manhã,

uns tons de salmão,

brincando
como crianças
na aragem?


José Rodrigues Dias, 2012-06-30


terça-feira, 5 de junho de 2018

Mensagem de Paz

 



Quarto dia de guerra, novo poema nesta sequência (este escrito em 2018 e publicado em livro de 2021):

Poemas com "guerra" e "paz" / 4.


Votos de uma boa semana, com paz!


Jrd, 2022-02-27


domingo, 1 de abril de 2018

Páscoa



Páscoa


A Luz irrompe das trevas,
da terra funda
que foi túmulo,
porque a Luz é mais forte
que a morte
e o que a morte inunda…

A Luz rompe a pedra
que a cobre,
irrompe em novo dia
e se eleva…

O pássaro que na noite jazia
no jardim sob um manto de folhas
pressente a Luz
pelo despertar da manhã,
acorda o Sol
e canta a Primavera
e a harmonia!

E canta, canta,
canta
para todos nós!

Passagem a outro tempo
de recriação,

como Luz
em ovo
que se abre
em movimento

(de Alfa para Ómega),

sem sombras os olhares,
os olhos límpidos
de milagres
como a Luz…

2014-04-20


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Ed. Forinfor, 2016.

sábado, 31 de março de 2018

Sabbatum Sanctum



Sabbatum Sanctum


Dia de espera,
espera
de esperança
de vida
de túmulo nascida…

Quem espera
alcança…

Dia da Senhora da Solidão,
filho no chão,
irmão,
tempo de solidão…

Por que tanto se desespera,
tanta guerra,
irmão?

Tempo de espera,
de solidão...

2014-04-19


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Ed. Forinfor, 2016

sexta-feira, 30 de março de 2018

Sexta-Feira Santa




Sexta-Feira Santa

 
Crucificado,
traído,
Cristo,
hoje morto…

A morte,
momento de passagem,
três dias,
Páscoa,
uma imagem...

A vida,
todo o outro tempo…

Aqui, noutro império,
crucificados,
traídos,
mutilados,
sem quase próprios pecados,
durante quanto tempo
a passagem?


2014-04-18


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Ed. Forinfor, 2016.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Quinta-Feira Santa


 


Quinta-Feira Santa


Chegou a noite, cansado,
grande já o dia, Sol alto e grande,
trabalho variado, queimado,
meados de Abril…

Morreu Gabriel García Márquez,
dia de solidão,
Cem Anos de Solidão

Jorge Amado, do mesmo lado do mar,
já tinha morrido…

Cristo morre amanhã
traído,
ceia hoje com os discípulos
em partilha:

 tomai e comei…,
bebei…,

o meu corpo…,
o meu sangue…,

em memória de mim…

 Entretanto, longe, lá muito longe,
é descoberto talvez um gémeo,
ou talvez um vago primo,
desta Terra que dura pisamos,
pó e barro,
água e pedras,
quase do mesmo tamanho,
chamaram-lhe Kepler,
Kepler qualquer coisa,
pode ter nascido planeta vivo…

(Da vida, quem sabe o quê?)

Morreu hoje Gabriel García Márquez…

Cristo morre amanhã, Sexta-Feira Santa.
Ressuscita ao terceiro dia,
no dia de Páscoa,
Primavera…

2014-04-17


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Edição Forinfor, 2016

quarta-feira, 14 de março de 2018

Dia do Pi




Dia do Pi

(Escrito e publicado aqui no blog há cinco anos)


Hoje será, também, o Dia do Pi, instituído em 1988 (há 25 anos), nos Estados Unidos. Curiosamente, neste dia nasceu também Albert Einstein (1879).

Hoje porque é 3/14 (Março/14) e o valor de Pi é 3,14...

O Pi é a razão constante entre o perímetro de uma circunferência e o seu diâmetro.

É um dos números mágicos, simbólicos, iluminando muitos caminhos, encobrindo mistérios, desafiando deuses...

Uma dezena de anos, aproximadamente, antes de Pi ter o seu dia, passava eu muitos dias à sua volta, namorando-o (ao mesmo tempo que ao "e") em jogos de encontros e desencontros probabilísticos, usando um mini-computador dos primeiros... Um computador com 8 K ou 16 K... Tanto que com ele se fazia...

Desse labor nasceu uma das minhas primeiras publicações, em livrinho, cuja capa apresento, como lembrança, acima. Tem algumas particularidades: iniciou a série "Ciências Exactas" das "Publicações Universidade de Évora", ainda com "Instituto Universitário de Évora" no logotipo, com a respectiva "Pomba", com o azul das Ciências Exactas.

É como elemento quase histórico que hoje o recordo...


José Rodrigues Dias, 2013-03-14