domingo, 23 de dezembro de 2012

A partícula de Deus


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Poema escrito e publicado aqui no blog "Traçados sobre nós" em Dezembro de 2011 sobre o Bosão de Higgs, descoberto em 2012, acontecimento do ano de 2012 da Revista Science (capa acima).


A partícula de Deus


A ciência previu-te.
Existes, provavelmente.
Ávidos, procuram-te os homens
Como num jogo de crianças
A ver quem te encontra primeiro…

Terão que te procurar
Onde a beleza estiver,
Sedutora, fugidia, rara,
Onde tudo é,
Tudo passa,
Quase nada é,
Como os homens,
As ideias
E as coisas! …


José Rodrigues Dias, 2011-12-15

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sobre a "encadernação"



Sobre a "encadernação"



Na semana passada fui a Lisboa participar num Júri de Doutoramento.
Área da Estatística (não, a Poesia é outra coisa…).
Reitoria da Universidade de Lisboa.
Fato e gravata; depois, lá, traje académico.

Quando, ao sair de casa, fui tomar café, a empregada,
notando a diferença da minha "encadernação",
diz-me qualquer coisa como:
"… hoje, voc... o senhor...".
Não acabou o "você",
substituindo-o logo por "senhor",
sem que eu tenha tido qualquer reacção.

Tenho imensas situações deste tipo, de quotidianos,
nos mais variados contextos.

Curiosas as “encadernações”...


José Rodrigues Dias, 2012-10-25

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cientista, ele espera …


Peter Higgs, do bosão.


Cientista, ele espera …

(Olhando Peter Higgs)


Ele espera …
É esperança e espera …

Tem o tempo do mundo,
A luz da manhã, do sonho,
Do sol ao pôr-se …
Porquê?
E se …
À lua, espera à noite, que ele espera …
Apeadeiro com bucha no caminho
Em que se refresca e espera …
Viu sem em concreto ver,
Num rabisco de papel
Numa fórmula
Num número …

Numa fórmula
Ou num número
Que tem que assim ser
Se …

Porquê?
Poema …

Ele espera …


José Rodrigues Dias, 2012-07-05

quarta-feira, 14 de março de 2012

Que hei-de fazer, amigo?! …




Que hei-de fazer, amigo?! …

Parece-me que estás a morrer, amigo,
E não sei o que hei-de fazer…
Ponho-me agora a escrever
Para me enganar nesta angústia!
Ontem à noite ainda ladraste
Quando vieste esperar-me ao portão,
Saltaste ainda como gostavas de saltar,
Como um cabrito, cão de neve,
E foste para a porta da casa
Onde comeste,
Onde sempre comias,
Quase ao pé de nós, livre, cão de campo,
Amigo, como um de nós!
Dei-te os remédios e um arroz de dieta.
Fiquei contente, comeste bem!
Hoje de manhã estavas deitado,
Já não vieste, como sempre vinhas,
Não te levantaste, tu já um pouco afastado da casa.
Deitado, dei-te o remédio como a um acamado.
És um cão de idade,
Eu sei,
E sei que temos um dia que nos separar.
Reparei até, sem saber porquê,
Que te foste afastando da casa,
Um pouco mais longe na relva deitado
Em vezes no dia quando de novo te via…
Eu sei que temos um dia que nos separar!
Mas que posso fazer a estas lágrimas
Quando, agora assim tu deitado,
Abres devagar os olhos
E me olhas com esse olhar!
Que hei-de fazer, amigo?! …

José Rodrigues Dias, 2012-02-08

sábado, 14 de janeiro de 2012

O sentido da morte



O sentido da morte

Estou, de novo, a pensar no sentido da morte, Steve.
A morte, dizias, seria a maior invenção da vida!
Quem diria, Steve?! Só mesmo tu! …
Mas talvez eu preferisse inverter os papéis!
Pois, então, não é a vida a maior invenção da morte,
Saída de um panelão de uma cozinha enorme iluminada,
Os ingredientes todos juntos e preparados pelo tempo,
E, depois, depois apenas uma simples erupção,
Como num simples interruptor de zero para um?! …
Tu, que pensaste nisso,
Que dirias, Steve?

Mas talvez tenhas mesmo razão!
A vida, a vida de cada um de nós,
Só tem sentido e um valor como outro valor não há
Porque a morte lhe sucede num dia incerto,
Ou a vida em outro estado de vida,
Isso não sei, Steve!
Estou a pensar …
Se a vida fosse eterna,
Se a vida, genialmente,
Não tivesse criado a sua própria morte,
Que encanto teria o dia seguinte,
E aquele petisco de fim de tarde,
E aquele luar dos namorados,
Se haveria sempre um dia seguinte?
E o prazer e a pressa de fazer,
De não adiar para amanhã o dia de hoje,
Esse stress bom,
Por amanhã poder um dia certo já não ser …
Talvez tenhas mesmo razão, Steve!

E o beijo, então, a que saberia?
E haveria mesmo o beijo?
Talvez não, Steve! …

Nem vida haveria! …

José Rodrigues Dias, 2011-10-07