sexta-feira, 29 de maio de 2015

Servos


Servos



Conta-se que havia um senhor que tinha muitos servos e que nas suas terras havia trabalho e pão. Mas um dia começou o senhor a empobrecer. Ano após ano, cada vez mais pobre, não importa aqui como o senhor empobrecia, já não sabia o senhor o que fazer com os servos, que o tempo, conta-se, era de muita secura. Outros senhores davam-lhe conselhos, o senhor até os seguia, mas cada dia se via mais pobre… E o senhor, que diziam ser um homem de bem, já de longa idade, olhava, pensativo e triste, os seus servos na secura da terra. Que haveriam de comer, com tanta secura…

Os campos à volta eram já quase só de terra batida naquela aridez crescente, isso via bem o senhor, e os servos sem pão e sem trabalho da secura sofriam… Um dia, olhando os servos já quase espalmados, disseram certos senhores de fora ao senhor para cortar mais no pão dos seus servos, ele que já contrariado tinha antes cortado. Mas que haveria o senhor de fazer, ele que não tinha pão e que já só o recebia daqueles senhores de fora a quem já tanto agora devia…

Um dia, falando o senhor no seu jeito aos servos, já quase sem dignidade na postura, o senhor disse-lhes, com pena, é verdade, que ia cortar mais no pão. Que poderiam dizer os servos e ele se o pão era daqueles senhores de fora e os senhores assim queriam… E o senhor cortou, cortou mais, que tinha que assim cortar, dizia a si mesmo, olhando triste os servos, para a si mesmo se desculpar.

Entretanto, nas terras à volta, a secura dos tempos ia aumentando e os homens de fora que tinham o pão iam apertando o senhor que cada dia mais lhes devia.

E o pão do senhor aos servos foi assim diminuindo, o senhor mais pobre, mais triste, cada dia mais pobre, pior os servos, as dívidas do senhor maiores àqueles senhores de fora…

Um dia faltou ao senhor um servo. Homem bom, procurou-o. Encontrou-o morto.
Noutro dia, faltaram-lhe dois.
Depois, mais tarde, outros servos…
Há quem conte, sem se saber bem como, que os servos se revoltaram…
Mais tarde, conta-se, os senhores de fora encontraram o senhor morto e ficaram com o que sobrou…


José Rodrigues Dias, 2012-01-29

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