segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sonho



Sonho


Amanhã talvez mudes, Amiga!
Mas hoje não deixes que te mudem,
Que te mudem o sonho em Abril florido…
O sonho que agora sonhas inebriada
Como em sono de menina quase acordada…
Não, não deixes!
Sonha, sonha, sonha… Sempre!

Enquanto o mundo te deixar,
Fica assim o tempo que puderes a sonhar
E alimenta assim a alavanca de sonho meu
Mesmo sendo de tons diferentes do teu…
Quando para outro lado do sonho passares,
Se passares, ou se te passarem,
Se por outros caminhos então andares,
Imagino que sentirás pena deste teu sonho ter acabado,
Se em ti o belo e o puro tiverem tristemente em deserto secado…

Sim, Amiga, é provável que também em ti
Este sonho acabe, que se esfume em nada,
Ou em quase nada…
Só tu, então, o saberás!

Precavida, guarda sempre uma réstia do teu sonho,
Da tua aurora que dela te irás recordar
Em madrugada de frio acordada…
Guarda bem uma réstia dessa luz,
Em teu secreto tesouro, só teu,
Um raio só que dessa luz seja,
Desta tua aurora em tons de sol a chegar…
Ficará como um teu porto ainda de partidas
Mesmo que só já de sombrios sonhos em estreitas
Caminhadas em águas já poluídas e agitadas…

Sabes, Amiga, não haverá tempo belo como o do
Sonho jovem e puro acordado a pensar tudo mudar,
Mesmo nada mudando,
Mudando o mundo…

Olha, Amiga, é ainda hoje
A luz dos meus sonhos que me vai encaminhando…

Sonha, Amiga…


José Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, Chiado Editora, 104 pp, 2011.

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